O transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), como o próprio nome sugere, é caracterizado por um padrão persistente de desatenção, hiperatividade e impulsividade, que interferem no desenvolvimento ou funcionamento normal do indivíduo.
Descrito desde 1798, por Sir Alexander Crichton, o TDAH é atualmente o transtorno neurocomportamental mais frequente na infância, afetando cerca de 13% das crianças brasileiras, com predomínio global no sexo masculino, na proporção de 3 meninos:1 menina.
Em relação à etiologia do TDAH, acredita-se que seja multifatorial, mas com forte componente genético. Há alguns estudos que evidenciam que pais com diagnóstico de TDAH apresentam risco duas a oito vezes maiores de seus filhos apresentarem o mesmo transtorno. Estudos com crianças adotadas mostram que a prevalência de TDAH em seus pais biológicos é até 5 vezes maior que a dos pais adotivos, mostrando que o TDAH é genético, com certa participação ambiental. Somados a isso, alguns fatores já foram correlacionados com discreto risco no surgimento do TDAH, como as intercorrências perinatais (eclampsia, prematuridade, baixo peso ao nascimento, entre outros), assim como exposição materna ao tabaco, álcool e substâncias contendo bisfenol.
O quadro clínico do TDAH varia conforme o subtipo que a criança manifestar, podendo ser apresentação predominantemente desatenta, apresentação predominantemente hiperativa/impulsiva ou a apresentação combinada, com a presença de ambos. Pode ainda ser classificado em leve, moderado e grave, conforme o impacto e prejuízo do transtorno.
Além do quadro clássico citado acima, há outros sinais sugestivos nas crianças:
Queixas frequentes de baixa tolerância à frustração, irritabilidade, teimosia, mudanças frequentes de humor, perda frequente de objetos, dificuldade em aguardar a sua vez ou de permanecer sentado durante a aula, desorganização, dificuldade de memória, dificuldade em terminar tarefas e desempenho acadêmico ou profissional prejudicado.
Além disso, vale salientar que essas crianças se mostram mais atentas a atividades dinâmicas ou de seu interesse, conseguindo passar horas no computador, videogame ou mesmo brincando.
O diagnóstico do TDAH é clínico e tem como base os critérios do DSM-5, no qual a criança deve apresentar pelo menos 6 sinais de desatenção e/ou hiperatividade, os quais devem ter se iniciado antes dos 12 anos, estarem presentes há pelo menos 6 meses e em pelo menos dois ambientes, interferindo em seu funcionamento acadêmico, profissional ou social. A avaliação neuropsicológica pode contribuir para o correto diagnóstico, principalmente em casos atípicos. Exames complementares devem ser indicados conforme a necessidade de cada caso, não fazendo parte da rotina diagnóstica.
A evolução clínica do TDAH é muito variável, sendo que a maioria das crianças permanecerá com sintomas, mesmo que parciais, na vida adulta. Um fator que pode influenciar em um pior prognóstico é a presença de morbidades psiquiátricas, dentre elas o transtorno de conduta, transtorno opositor-desafiador, depressão, ansiedade e os transtornos específicos da aprendizagem.
O tratamento do TDAH, por sua vez, deve ser individualizado, multiprofissional e composto por orientação dos pais, participação da escola, terapia cognitivo-comportamental e terapia medicamentosa. A presença de comorbidade deve ser avaliada criteriosamente e considerada no momento da decisão terapêutica. Vale lembrar que quanto mais precoce o diagnóstico e a intervenção multiprofissional, maiores as chances de sucesso acadêmico, profissional ou social desses pacientes.